terça-feira, 24 de junho de 2008

HISTÓRIA DE COBAN

Félix Coban Conhecendo os 3Cs do Crime *Por José Maria t.c.c Gooxe

Nascido em 21-07-1977, Félix, mais conhecido como Coban, teve uma infância não muito diferente dos q habitam nas favelas espalhadas pelo Brasil, uma infância repleta de adversidades, descaso e falta de perspectivas. Félix era um garoto introvertido q desde cedo nomeou os livros como seus melhores amigos e provavelmente daí veio o gosto pela poesia q logo se desenvolveu para os versos ritmados do rap.

Félix foi nascido e criado em Catiapoã, bairro de São Vicente, em São Paulo. Negro, jovem e criativo, as idéias fervilhavam em sua cabeça, em uma selva predatória e repleta de ilusões, Coban queria marcar seu nome na história...dinheiro, poder e ilusão acabaram em sua adolescência o levando ao caminho dos delitos criminais, tendo em sua especialidade o tráfico de armas e o assalto a bancos, daí o pseudônimo artístico Coban ( que é uma forma retorcida de se referir a banco, mudando e invertendo a grafia da palavra).

Coban tinha uma vida saudável, não usava drogas, não fumava e não bebia, porém um vício pela adrenalina o destruía, a adrenalina de assaltar bancos, sabendo que aquela poderia ser a última vez que saía de casa, adrenalina da reação das pessoas do outro lado da pistola. Isso ele descreve muito bem em uma de suas canções intitulada “A viagem é longa”.

Félix teve muitas visões em sua vida, uma delas, que o levou a reconsiderar sua opção pelo crime pela primeira vez, veio da pior maneira possível. Durante um assalto a banco em São Paulo, foi baleado por um vigilante, levado para o Mandaqui, foi descoberto paraplégico. Dali em diante, seguiria sua vida em uma cadeira de rodas. Fato que passou a ser relatado de forma freqüente em suas letras como podemos analisar em várias delas: em “Falha no crime” ele relata a agonia de estar no hospital e em dúvida qual seria o seu final entre cadeia, caixão ou a cadeira de rodas.

Se formos analisar a obra de Coban sem conhecê-lo pessoalmente, já que as fontes de sua história na Internet e em revistas especializadas são muito escassas, haveria uma contradição em entender o motivo de sua paraplegia, se seria o atropelamento que é citado na música “Não deixem eles me levar” ou foi em decorrência de disparos efetuados por policiais no assalto mau sucedido e fica claro que a segunda opção é a correta, onde podemos confirmar nos versos de “Falha no crime” onde ele diz: “Me abandonou na fita baleado com a certeza q eu já era finado, eu vi a minha casa cair, ser derrubada tomei uns tiros de oitão”, se referindo aos comparsas que o abandonaram ao ver ele baleado e analisando mais profundamente em “Não deixem eles me levar”, temos: “Sangrando no chão e baleado, minha visão está escurecendo, estou vendo tudo distorcendo, eu ouço pouco, caralho eu vou morrer só com 18 igual um porco, na minha mente eu já me vejo morto” e na música “O resultado que eu obtive” encontramos “Marcas de furo a bala, as pernas paralisadas (...)E como resultado obtive um tiro na espinha”.

Em momentos de reflexão após tamanha desgraça na vida de uma pessoa tão jovem, Coban destila versos melancólicos e analíticos que mostram um olhar para dentro de si e uma reflexão se os resultados obtidos no crime compensaram, em “Falha no crime”, Coban cita: “Essa vida é foda, dá várias voltas, a cadeira de roda é um tempo q eu tenho pra refletir, parar de agir/ pensar um pouco/ já tive carro, moto e um dinheiro, hoje eu não tenho um real no bolso!”

viagem é longa” onde temos as reflexivas rimas: “Vê q barato cabuloso...o q tá acontecendo comigo? Parece até q eu sou outro! Eu me olho no espelho e não me reconheço, o q tá acontecendo comigo? Cadê o cara bandido de antigamente?”

Coban pensava em suicídio, mas mostra consciência, esperança de melhora com o tratamento e superação onde nesta mesma música diz: “A vida nova me faz pensar em suicídio, desistir de tudo isso, Fisioterapia, os primeiros dias foram foda! Superar o ódio, atravessar o preconceito e de cadeira sair no rolê, fazer e acontecer! Ter consciência q a vida continua, não muda, não faça a si mesmo a pergunta...Pq logo comigo veio acontecer, se deprimir não vale a pena com isso assina a sentença, se auto condena...”

Abandonada a vida de assaltante, a vida de traficante de armas prosseguiu; a consciência de que deveria abandonar o crime por completo o perseguia, muito embora, ainda houvesse mais uma negociação de armas, com uma quadrilha de São Vicente. A última atividade criminosa de sua vida. Ironicamente, a última atividade de sua vida. Confundido com um traficante de drogas rival, que disputava pontos de tráfico na região, morreu antes que pudesse completar sua conscientização, que demonstrava estar sendo refletida e alimentada a cada dia, como podemos ver na letra de “A viagem é longa”, onde temos as rimas relatando uma viagem que mais parecia de uma vida para outra do que um caminho a percorrer na vida para mudanças, Coban fala: Dentro de mim explode uma guerra/ é a consciência q pesa e pede tempo(....)aquele cara bandido acho q tá morrendo...não tô entendendo mais nada, acho q é minha cara, sossegar antes q eu tome um montão sem me dar conta, a minha viagem é longa!”

Coban parecia não ter achado seu lugar no mundo, necessitava deixar sua marca, sua mensagem e suas experiências, que nunca podem ser confundidas com apologia ao mundo do crime e sim um alerta como fica claro na primeira música do disco chamada “Idéia forte” onde Coban conversa com o ouvinte e dá um recado às crianças e aos q se iludem com o crime: “Aí molecada q tá crescendo agora! O crime não é vida pra ninguém, morô? Eu falo é por experiência...me acordaram!”. O rapper parecia já se sentir semi morto no mundo e como um chamado para uma missão, parece ter acordado de que havia pouco tempo para cumprir essa missão, q era relatar em versos rimados uma vida turbulenta e sem perspectivas e ser um anjo bandido q espalharia sua mensagem, seu alerta para uma geração q está crescendo sendo “educada” pelo gangsta onde muitas vezes coloca confetes vermelhos no crime e esquece q há um rio vermelho de sangue na vida dos q correm atrás do dinheiro maldito de forma desonesta e vemos nitidamente essa reflexão de ainda não ter deixado sua marca, no som “A viagem é longa”, onde diz: “Eu tento imaginar o q eu fui até agora/ se eu morresse minha história seria um falecido era foda! E nada mais! E q descanse em paz! Já vi muito disso, e talvez não falassem nem isso! Q barato esquisito, já tô vindo uma cara pensando nisso, eu só me vejo sei lá tomando um monte de tiro, falando assim me dá até um bagulho, fico pensando em tudo q eu já fiz, chego a duvidar se um dia vou ser feliz, qualquer q seja o futuro eu seguro a minha onda, minha viagem é longa!”, mais uma vez vemos suas premonições mórbidas e a necessidade de mudar esse quadro”.

Em “Deficientemente a caminhada continua”, Coban trata suas mensagens como um convite q se ouvido e interpretado pode ser uma redenção para bandidos e conscientização para os não ingressos na vida bandida, ele rima: “A idéia é forte, vai te livrar da morte, é o passaporte pro bem, uma chance em cem”, talvez essa “auto consciência” de tratar a idéia como “uma chance em cem” se dever a estar ciente de q infelizmente no rap nacional

11 comentários:

Unknown disse...

Toda admiração não só pelo trabalho musical do Félix Coban, mas todo respeito pelo pessoa dele. Eu o conheci.

Paz.

Fabiano disse...

Eu particularmente não conheci a obra do Félix, vim a conhecer o seu nome em um rap do grupo "A Família" chamado "Castelo de Madeira" e vim procurar saber a história dele.
Conheço o Catiapoã e mais algumas quebradas da baixada e sei como muitos moleques que eu vi crescerem comigo acabaram ou estão, e sei que a inteligência e sensibilidade que apresentava o Félix não é um privilégio, muitos são os jovens que estão perdendo talentos inestimáveis pela sedução do dinheiro, carro e mulheres que a vida bandida oferece.
Que não seja em vão o esforço dele ao fazer da sua caminha tortuosa um meio de alertar sobre esse lobo em pele de cordeiro.
Infelizmente ele foi vítima do veneno para o qual ele tentou ministrar antídotos nos que o cercavam.
Fica a pergunta:
"Viver pouco como um rei ou então muito como um Zé?" (Racionais MCs)
Paz a todos!

Inácio Luiz disse...
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Inácio Luiz disse...

eu também conheci pela essa música castelo de madeira,depois fiquei curioso para saber a historia do félix,depois que ouvi a musica ´´Não deixem eles me levar´´ e ´´falha no crime´´ eu me tornei fã do coban,admiro muito,queria ter conhecido assim como o Crônica Mendes,seria uma honra dar um aperto de mão,e com certeza daria um grande parabéns ao FÉLIX COBAN.

Inácio Luiz disse...
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Inácio Luiz disse...
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Inácio Luiz disse...
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manuel j.santos disse...

ootargockarmeConheci o negro felix é assim que chamavam ele no trabalho, onde eramos patrulheiro de santos, ele trabalhava no 4º andar do passo municipal de santos eu no terceiro anda, isso em 1992/1993 ele com 15 anos eu com quase 17 anos.Fui saber o que ocorreu com ele depois que ele já tinha sido assassinado... Deus abençoe a sua alma e conforte a sua familia.

Unknown disse...

Obrigado por relatar um pouco da historia de Coban , muito estranho umas letras dele , parece q ja conhecia ele... mo 'Déjà vu' . Valeu, e um forte abraço.

Unknown disse...

Eterno Conan

Unknown disse...

Será que alguém em 2022 aindA se importa,vivemos tempos piores que 1995/2009,quem sobreviveu sabe do que falo.
Um abraço a todos